quarta-feira, 17 de março de 2010

Audiência Pública em defesa das Cotas Raciais

Audiência Pública em defesa das Cotas Raciais na Assembleia Legislativa do Estado da Bahia. Campanha "Afirme-se".

Local: Assembleia Legislativa da Bahia - Sala das Comissões Herculano Menezes, Centro Administrativo da Bahia (ALBA - CAB).

Data: 23 de março de 2010.

Horário: 10h.

Contato: 3115- 7150 Ana Claudia.

terça-feira, 9 de março de 2010

Mexeu com ELAS, mexeu COMIGO


Neste ano de 2010, ao começar a falar da importância do 8 de Março – Dia Internacional da Mulher – quero manifestar meu repúdio à fala do Senador da República Demóstenes Torres, Partido Democratas, em Audiência Pública no Supremo Tribunal Federal do Brasil (STF), no dia 03 de Março de 2010, que analisava o recurso instituído pelo seu partido contra as Cotas para Negros na Universidade de Brasília.

Durante a audiência, o Senador falou sobre o período escravagista. Ele comentou que, o que ocorreu entre as mulheres negras e os homens brancos (escravagistas), foi “relações consensuais” e não estupro de mulheres negras pelos escravagistas, como denunciam os ativistas negros/as. No decorrer de seu discurso, continua eliminando a possibilidade da violência física e sexual vivida por negras africanas nessa época. Mais uma vez, o racismo e o sexismo são negados, e as mulheres negras foram responsabilizadas e violadas como cidadãs.

No ano de comemoração do centenário do Dia Internacional da Mulher e também do Ilê Axé Opô Afonjá, um dos terreiros mais antigos da Bahia – espaço protagonizado e forjado a partir da resistência e luta das mulheres negras -, esse episódio nos faz refletir que, embora os passos de lutas das mulheres (negras, brancas, indígenas, trabalhadoras rurais, quilombolas, do candomblé e marisqueiras) em busca da garantia de direitos e contra todas as formas de violência e opressão que possam atingi-las, “vêm de longe”; ainda existe um caminho de muita luta e enfrentamento a ser percorrido para garantir a consolidação plena dos direitos e da equidade de gênero em todas as nações.

Ao longo desses cem anos, podemos afirmar: as vitórias dos movimentos feministas e de mulheres – dentre as quais elencamos o direito de criminalizar a violência doméstica, a ida à lua, a possibilidade de assumir a presidência em alguns países, a ampliação da participação das mulheres na Academia, por conseqüente, nos setores científico e artístico – foram fundamentais para a mudança de um conjunto de padrões culturais que aprisionavam as mulheres, uma vez que estas passaram a se organizar de maneira a assegurar sua autonomia econômica e financeira.

Apesar da importância dessas conquistas, não podemos esquecer que as mulheres continuam a lutar para garantir os direitos sobre seu corpo, a atuação nos espaços públicos, especificamente, na arena política, e assegurando a visibilidade política. A dificuldade em alcançar algumas destas pautas demonstra o conservadorismo de setores da sociedade que são orientados por bases racistas, machistas e sexistas que se manifestam contra a legalização do aborto, e aprovação de leis como a Maria da Penha, da igualdade entre homens e mulheres no mundo do trabalho, das cotas de 30% de mulheres nas disputas eleitorais...

Por isso, manifesto a minha solidariedade no Dia Internacional, meu apoio às lutas e pautas travadas pelo movimento feminista. Hoje lançamos a campanha “Mexeu com elas, mexeu comigo! É dever de todo homem acabar com a violência contra a mulher”. Nesta campanha buscamos provocar debates com os homens, no sentido de conscientizá-los e responsabilizá-los pelo combate a violência contra as mulheres, responsável este ano, somente na Bahia, pela morte de aproximadamente 10 mulheres, apoio a legalização do aborto, a livre orientação sexual e demais bandeiras.

Quero reforçar mais uma vez o apoio à luta das mulheres para garantir participação nos espaços de poder e decisão. Apesar de completar cem anos de luta pela Garantia de Direitos, as mulheres ainda são minoria nesses espaços; o Brasil é o país do mundo com os menores percentuais de mulheres atuando nas casas legislativas federais, estaduais e municipais (a Câmara Federal, por exemplo, de 513 deputados (as) apenas 45 são legislaturas de mulheres. São 76 anos de voto feminino e o parlamento brasileiro possui menos de 10% de representatividade feminina, sendo o país que possui menos mulheres no parlamento).

Portanto, o Dia Internacional da Mulher do ano de 2010 adquire um sabor especial, pois ao completar cem anos, consolida-se uma história de luta e enfretamento a todas as formas de exclusão e violência. Este ano, homens e mulheres têm em suas mãos a responsabilidade de iniciar o rompimento com as sustentações machistas e sexistas, além de exercitar a equidade de gênero, elegendo – pela primeira vez na história e contrariando discursos e estatísticas de setores conservadores da sociedade brasileira – uma mulher para ocupar o cargo de maior autoridade do país, o de Presidente (A) da República.

Vamos juntas e juntos construir um Brasil mais justo e igual para homens e mulheres.

Deputado Federal Luiz Alberto (PT/BA)

Entrevista com Tonho Matéria por Anderson Rabelo*

Este semestre estou pegando uma disciplina chamada Literatura Africana. A professora nos passou como trabalho, escolhermos músicas que falem da África e/ou sua cultura e minha equipe escolheu a música Akhenaton e Nefertiti. Consegui entrar em contato com Tonho Matéria, cantor e compositor e autor da música e pedi para fazer uma entrevista com ele por e-mail. Me senti tão contemplado com as respostas que resolvi pedir para postar a entrevista neste blog e espero que vocês gostem assim como gostei muito. Mais uma vez, agradeço a Tonho Matéria por ter concedido essa pequena "entrevista". _____________________________________________________

Akhenaton e Nefertiti
Primeiramente, queremos agradecer por nos conceder essa entrevista e ressaltar a importância da sua música para o resgate e manutenção da cultura Negra soteropolitana por revelar uma identidade forte que nos influencia em bastantes áreas que nem sabemos e estudando descobrimos mais e mais e mais.
1. Antes de entrarmos na música Akhenaton e Nefertiti, gostaríamos que primeiro você pudesse traçar um pouco da sua história até chegar ao Olodum.
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Tonho Matéria: Então vamos lá. Eu me chamo Antonio Carlos mais em arte Tonho Matéria, nasci no bairro de Pau Miúdo e desde pequeno sempre me inclinei para a música e assim fui participando de alguns terreiros de candomblé para aprender a tocar porque eu queria ser percussionista, mais isso depois tirei da cabeça e busquei a capoeira e em seguida fui participar de alguns grupos de samba junino: Pagode dos Fiáis, Ôba Ôba, Coruja Junina, Ganzá, Obatalá e blocos afros e afoxés como: Ébano, Amantes do Reggae, Afreketê, Ilê Oya, Omolu Ilê, Oyá Ilê, Ara Ketu e até chegar ao Olodum.
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2. Qual a sua relação com a cultura africana?
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TM: Como negro tenho uma obrigação de me relacionar com a cultura africana. Muitas pessoas acham que se relacionar com a África é fazer parte do candomblé ou da capoeira, o que é negativo. Na verdade se relacionar com a África é manter-se vivo em afirmação identitária e preservar as matrizes ancestrais e é o que eu faço, busco na relação africana a minha consciência negra de sempre manter vivo os elementos simbólicos da África negra e tento passar para meus alunos na capoeira e para o meu público na música quando estou em apresentação sonora ou até mesmo nos meus discos.
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3. Enfim, com tanta variedade na cultura africana o que te levou a escolher o tema Akhenaton e Nefertiti?
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TM: Sempre fui curioso para descobrir coisas da África até então não comentado em músicas. As pessoas acham até hoje que o Egito não é na áfrica e por isso escrevi varias canções falando em personalidades ou lugares deste país. O Olodum sempre cantou o Egito e escolheu o tema Akhenaton e Nefertiti um casal solar, e como sempre eu debatia com João Jorge sobre as temáticas do bloco para o carnaval, o que temos para falar, apresentar, qual forma de discursos iríamos propor etc. Aí me veio a idéia de escrever esta canção que levei quase três meses para terminá-la. Preferi me aprofundar mais no tema e entender todas as questões sociais, culturais, políticas e religiosas do Egito antigo. Amo as divisões monoteístas e politeístas. Então, por acaso, no aeroporto de Recife indo para a Europa, eu comprei um livro: Nefertiti e Akhenaton do autor Christian Jacq e quando eu terminei de ler já tinha entendido toda a história do pai de Tutankamon, ai foi só escrever a canção da forma que eu imaginava. O Olodum ainda não tinha divulgado para o pessoal o tema mais eu sair na frente porque iríamos gravar o DVD e já queria estar com uma música falando do tema que o bloco iria apresentar no carnaval. De fato esta canção é de dupla nacionalidade, brasileira e italiana kkkk. Terminei-a na Itália.
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4. Qual sua opinião sobre o cenário musical baiano atual? E quanto aos grupos que trazem elementos do candomblé em suas letras? Nessa pergunta eu lembro desde Carlinhos Brown até os novos pagodes baianos.
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TM: A musicalidade baiana é bastante rica, mais está sendo mal explorada. É preciso ousar mais, ter mais criatividades. Principalmente a galera do pagode que estão com toda bagagem popular nas mãos, mas não conseguem sair daqui de Salvador, são poucos que conseguem furar o bloqueio, e isto, simplesmente por não entenderem que fazer música não é brincar com sentimentos e não é diversão, a gente se diverte com a musica, mas fazer musica é se comunicar com os sentidos do imaginário, é transportar alguém para o universo dos sentidos e fazer viajar num mundo desconhecido, é fazer o individuo reviver a sua historicidade. Pensar que já esteve naquele lugar sem nunca ter ido. Eles pecam nesse sentido, quando não falam do amor com amor e só propagam sexos e drogas, e isto não é música.
Quanto aos elementos do candomblé nas músicas é uma forma de divulgar o que a cultura do candomblé tem. Já que a história do negro precisou de uma lei para ser ensinada nas escolas, então os artistas conscientes vão manifestando seus rituais dentro das letras das músicas. Isto é uma forma de correio nagô, de boca em boca. Não sou contra não. O que não gosto é quando se cantam os segredos do candomblé, por exemplo: Contra “EGUN”, falar dos segredos de “EXU”, etc. isto não acho legal não. Eu também faço citações a alguns símbolos do candomblé mais com cautelas e cuidado para não desagradar nem o povo do axé e nem os orixás.
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5. Uma coisa que me inquieta bastante, o que você acha dessa ligação quase que sinônima de África e candomblé?
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TM: Acho um erro de consciência coletiva, uma falta de visão e percepção. Imagine se em toda a África fosse só um mundo de rituais. Com certeza no mundo, o candomblé estaria na frente de todas as outras religiões, tanto no quantitativo como no coletivo. Esta é uma forma de pensamento eurocêntrico que numa lavagem cerebral nos deixou como herança todas as formas de desconstrução cultural e assim vivemos ate hoje, acreditando que o candomblé é coisa do diabo, que leite com manga mata, que o boi da cara preta mete medo em criança, que devemos trabalhar sempre para homens brancos e se curvar a eles sempre que ele estiver por perto, etc. a igreja católica muito contribuiu para este mal.
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6. Em relação ao momento presente, como você enxerga o modo como a cultura africana ou as heranças africanas são tratadas nos espaços que se proclamam “valorizadores das raízes africanas e/ou do povo negro”?
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TM: Numa visão critica, percebo que tudo que se diz respeito à cultura negra é usado como folclore.
Todos negam a cultura negra, todos mesmo. As empresas privadas quando dão patrocínios é impondo seus conceitos e tudo tem que ser de acordo à suas exigências. O governo cria editais para a cultura negra, mas o mesmo não da aceso ao negro que vive em comunidade e que nunca cursou uma faculdade; As políticas culturais não são direcionadas para esses negros como deveriam ser de fato. As ações afirmativas não conseguem sair do papel e os benefícios nunca são direcionados aos negros.
Deveríamos ter aqui em Salvador um museu que guarde a memória africana, ruas com nomes de negros que se destacaram na política, nas revoltas populares, na capoeira, no candomblé, no samba de roda. Tínhamos que ter monumentos da história da escravidão em lugares públicos para os jovens terem acesso ao conhecimento, e conscientizar esses jovens sobre a memória dos seus antepassados. Enfim, a nossa herança está mal cuidada.
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7. Já que entramos um pouco nessa questão do movimento negro, então, em que medida você considera importante, em relação à época atual, a valorização desse grupo na sociedade brasileira de hoje?
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TM: Quando se tem um pensamento coletivo em que todos façam do movimento negro um “negro em movimento”, plagiando Mario Nelson, assim como foi Zumbi (Zambi), Dandara, Alqualtune, Luiza Mahin, Abdias do Nascimento, Mario Gusmão, Grande Othelo, Manoel Querino, Cruz e Souza e tantos. Vale apenas lutar pelos ideais, mais o que percebo hoje em dia é ainda uma forma de buscar desolada. As entidades ligadas ao movimento negro não mais se preocupam com o coletivo e percebo isto na marcha do dia 20 de novembro, na passeata dos filhos de santos, nos debates dos capoeiristas e tantos outros manifestos. O movimento que era apolítico se politizou e se dividiu demais e agora cada facção luta por políticas partidárias isoladas. E quando um negro sai candidato a algum cargo político esse movimento não consegue elegê-lo. Alguma coisa está errado nisso. Vi isso com Vovô do Ilê, Samuel Vida, Clarice, Bujão, etc.
Lembro das canções dos blocos afro quando os autores diziam: “Não se importe negro, a verdade vencerá, sua cultura é completa e seus deuses são vivos” Gilson Nascimento. “Se houver barreiras pulo não me iludo não, sem essas de classes do mundo, sou um filho do mundo, um ser vivo de luz” Suka. Então esses versos me levavam a crer que éramos capazes de lutar e de vencer e quando a vitoria chegasse todos seriamos unidos por um só ideal, construir uma sociedade com LIBERDADE de expressão com IGUADADE e muito FRATERNIDADE mais isto não vejo mais nos movimentos, a luta agora é pelo poder, pelo status, pela democracia particular. Estes blocos também ajudam a construir um movimento de apartheid, talvez inconscientemente. É só olhar para seus quadros de funcionários.
Assisto aos programas nas TVs e só vejo o povo negro sendo massacrado, genocídio, extermínio todo dia e nada se faz para dar um basta nesta violência, à gente só fica falando: ”nossa como a cidade estar violenta”. E nada se faz para diminuir este sinistro quadro. Agora é a hora de o movimento ir a TV e convidá-los para debatermos de perto sobre a problemática que ocorre nas ruas, nas comunidades, nas favelas, na falapitas, enfim, buscar uma solução mais direcionada e ter uma solução, vamos criar um programa sócio-educacional junto com as comunidades, vamos dividir os milhões dos cofres públicos com ações afirmativas direcionadas ao povo que a violência acaba e se o movimento negro buscar este entendimento direto com o governo, empresas, mídia, etc. com certeza acabaremos de uma vez com a proliferação do trafico de drogas e seus efeitos terminais em nossas comunidades.
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8. Considerações finais
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TM: Acreditado na esperança de um dia ser visto pela sociedade como um indivíduo que através da arte promoveu cidadania com as ações desenvolvidas pela música, pela capoeira e pela publicidade. Acredito que ainda posso dar de mim para fazer fluir novos atores com mais consciência política e acima de tudo com caráter.
A capoeira me deu tudo que eu quis na minha vida, e o melhor de tudo foi saber que lutar através da capoeira contra todos os tipos de discriminação nesta sociedade que ainda não nos enxergam como seres humanos foi a maior vitória da minha vida. Saber que através da capoeira coloquei um aluno (Eder, na capoeira Dimenor) no filme BESOURO fazendo o papel de Besouro ainda na infância, e colocar outro no filme Capitães de Areia, isto é mais que gratificante e isto é fazer movimento negro, ou seja, é colocar o negro em movimento.
Como presidente da Associação Sócio-Cultural e de Capoeira Bloco Carnavalesco Afro Mangangá eu só tenho agradecer pela oportunidade. Espero poder participar das palestras principalmente falar sobre a musicalidade e a cultura negra, será um maior prazer.
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Obrigado,
Salve camará!!!
Tonho Matéria


* Anderson Rabelo é estudante da UNEB Campus I (Salvador) e Executivo Estadual da ExNEL - Executiva Nacional de Estudantes de Letras gestão 2009/2010.

Dia da Consciência Negra por Anderson Rabelo*

Dia da consciência negra

Vinte de novembro, dia da consciência negra. Próximo ano será feriado, isso é válido? Conversando com uns colegas outro dia, tive a oportunidade de ouvir a infeliz frase: “Vou ficar negão no dia da consciência negra em homenagem!”. Creio que com isso, não precisaria escrever mais nada. Neste texto dito por meus colegas, está implícito que não é de um feriado que necessitamos, mas medidas reais de conscientização nas escolas e universidades. Deveria ser sim, aprovado um projeto de lei em que as escolas tivessem a obrigação de promover semana cultural da consciência negra. Ao movimento negro – que me desculpem a falta de informação se estiver sendo desinformado neste texto – caberia despertar realmente para este dia e não apenas aparecerem nos momentos-chave, à mídia brasileira, está na hora de revelar verdadeiramente a cultura negra no país e não levar um negro estereotipado, donos de apenas uma cultura quando a África é um continente imenso e de culturas diversas. As universidades – e a Universidade do Estado da Bahia sai na frente com a sua proximidade com a causa negra realizando o seminário “É coisa de preto” em Salvador e “Santo Antônio Negro” em Santo Antônio de Jesus – deveriam abrir espaços para discussões mais aprofundadas sobre o negro no Brasil e toda a questão histórica que desemboca no discurso que diz que temos uma dívida com o passado. Fica a problemática: “até que ponto?” (e que fique claro que essa pergunta é apenas uma problemática, não uma opinião formada)
Não é de mais um feriado que nós precisamos, precisamos sim de maior atenção e assistência. Vivemos uma época em que muitos brasileiros são apáticos à política, a todos os movimentos em geral e nós somos um povo criativo. Não devemos desperdiçar nossa criatividade em ócio, mas sim em transformar nossa apatia em simpatia e construir juntos. Pense nisso.


*Anderson Rabelo
Estudante de Letras da Universidade do Estado da Bahia
Executivo Estadual da ExNEL (Executiva Nacional dos Estudantes de Letras)

MOÇÃO DE REPÚDIO A VIOLÊNCIA E A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

Salvador 04/01/2010

MOÇÃO DE REPÚDIO A VIOLÊNCIA E A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

Nosso Repúdio a repressão racista e preconceituosa dos Policiais da13º Delegacia de Policia de Cajazeiras 10 e ao sensacionalismo doPrograma de Televisão NA MIRA, um caso de saúde pública em nossacidade.No último dia 01/02/2010, pela manhã, foi invadida a Comunidade Rastafári emCajazeiras 10. A terra é ocupada há mais de oito anos e há pouco tempotornou-se uma Comunidade de confraternização e louvor a JAH (DEUS). O queantes era violento e inabitado, agora é um local de se fazer arte, poesia,rezar, tocar reggae e receber os amigos. O local foi transformado,assim como a vida de alguns daqueles que quem freqüentam a comunidade. Através da fé muitosvivem hoje uma outra vida, envolvidos na luta pela organizaçãocomunitária e a fomentação de PROJETOS SÓCIOS-CULTURAIS no bairro de Cajazeiras.Como se não fosse suficiente a forma RACISTA E INTOLERANTE como invadiram as casas dos moradores, sem nenhum mandato de busca e apreensão, a polícia, retornoudurante à tarde para fazer a apreensão de dois pés de GANJAH (maconha), queestavam sendo cultivados, para consumo próprio na casa de ROBSON SILVA DOS SANTOS, um dos membros da Comunidade rasta. Para os rastas a GANJAH serve como elo de ligação ao divino, que se dá nos rituais onde se utiliza a erva. Apesar de terem visto a erva pela manhã, os policiais esperaramo momento em que pudessem chamar a equipe de reportagem do Programa NAMIRA, para só então, efetuarem uma inescrupulosa invasão a casa,fazendo uma verdadeira cena de teatro bizarro e proporcionando umaverdadeira humilhação em público ao morador da casa e a suaesposa, colocando-os no chão e os tratando de uma forma violenta e aterrorizadora. O medo e a humilhação foi tão grande que a senhora, esposa deROBSON SILVA DOS SANTOS, que também foi detida e liberada em seguida, urinou-se. Para completar a cena, os policiaisderam tiros para cima para simular uma troca de tiros com bandidos.Nosso amigo, irmão, músico, marceneiro, trabalhador, casado, comendereço fixo e RASTA, foi exposto como um criminoso. O repórterque fazia a cobertura do fato, não se preocupou em saber a origem ou significado da cultura rastafari como segmento religioso, nem tão pouco, com as palavras ofensivas que utilizou depondo contra o direito a liberdade de culto como garante a constituição federal do Brasil de 1988*.


*“A Constituição Brasileira consagrou de forma inédita que os direitose garantias expressos na Constituição "não excluem outros decorrentesdo regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratadosinternacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte."(art. 5°, § 2°). Assim, os direitos garantidos nos Tratados deDireitos Humanos ratificados pelo Brasil integram a relação dedireitos constitucionalmente protegidos. A Constituição Federalconsagra como direito fundamental a liberdade de religião,prescrevendo que o Brasil é um país laico. Com essa afirmação queremosdizer que, consoante a vigente Constituição Federal, o Estado deve sepreocupar em proporcionar a seus cidadãos um clima de perfeitacompreensão religiosa, proscrevendo a intolerância e o fanatismo. Deveexistir uma divisão muito acentuada entre o Estado e a Igreja(religiões em geral), não podendo existir nenhuma religião oficial,devendo, porém, o Estado prestar proteção e garantia ao livreexercício de todas as religiões.A Constituição Federal, no artigo 5º, VI, estipula ser inviolável aliberdade de consciência e de crença, assegurando o livre exercíciodos cultos religiosos e garantindo, na forma da lei, a proteção aoslocais de culto e as suas liturgias.”
Não podemos esperar que a consciência desses cidadãos fale por si, precisamos garantir que se faça valer os Direitos Humanos neste pais.O Programa NA MIRA, exibido na TVARATU, por volta das 13hs (treze horas), de segunda a sexta, expõe de forma desrespeitosa a imagem das pessoas e garante antecedência, aos olhos da sociedade, a condenação de todos e todas que prestam esclarecimento em uma delegacia.
O nosso companheiro ROBSON SILVA SANTOS foi mais um quepossibilitou enxergarmos, com atenção, o preconceito e o crime deintolerância religiosa que se cometeu no programa citado. Ao mencionar,de forma pejorativa, o Movimento Rastafári, um segmento religioso, quemerece o mesmo respeito que estabelece nas suas relações com qualquersegmento social ou religioso existente mundo,o programa desrespeitou a declaração universal dos direitos humanos no qual o Brasil é signatário.
DUDH - Art: 9º - Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.
DUDH – Art 11º Toda pessoa acusada de um ato delituoso, tem o direito de ser presumida inocente, até que sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei em julgamento público, no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias a sua defesa.
Ninguém pode ser condenado por atos ou omissões, no momento em que forem cometidos não tenham sidos delituosos, segundo o direito nacional ou internacional. Tão pouco será imposta a penalidade mais gravea do que a aplicável no momento em que foi cometido o delito. Acreditamos no bom senso das autoridades do nosso estado, e por via delas buscamos comprovar a inocência do nosso irmão ROBSON SILVA SANTOS, que não é nunca foi e nunca será traficante de drogas. Sabemos da importância e o respeito com se dedica ao seu culto religioso e não aceitamos que o transformem em um criminoso.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Negro ou Branco: Cotas quem pode e quem não? Por que sim e por que não?

Em 6 de junho de 2007 a revista (não) Veja trouxe na capa a foto dos irmãos gêmeos idênticos Álex e Alan. Segundo matéria que segue um pequeno trecho abaixo, os dois prestaram vestibular e buscaram o sistema de cotas, porém, um foi considerado negro e outro branco. Por quê? Como assim?
São gêmeos. São gêmeos idênticos. A falha aconteceu e serviu como pano de fundo para uma matéria tendenciosa que tentava mostrar assim que qualquer um branco poderia ser considerado negro e qualquer negro branco. É fato que houve erro. É fato que não como medir a cor tencidade de cor de pele de cada ser humano brasileiro. Porém, a matéria foi usada e repercutiu naquele ano como uma tentativa de barrar as cotas. Se era tão rico em falhas, como prosseguir adiante?
Porém as cotas seguiram a diante e hoje comprovadamente os ingressante por via das cotas diferente do que se previa, tem desempenho tão bom quanto muitos que não ingressam pelo sistema de cotista. O erro não voltou a se repetir (não dessa forma grotesca, uma vez que Alan e Álex são idênticos) e hoje, as cotas voltam ao centro das discussões. O Democratas - partido neo-liberal e filhote da ditadura militar brasileira entrou com ação questionando as cotas raciais. Foi criado um manifesto com assinatura de intelectuais de diversas áreas a exemplo de Ruth de Souza, atriz e João Ubaldo Ribeiro - pseudo imortal da Academia Brasileira de Letras. O senador Demostenés Torres tem cada vez mais ido à mídia bater nas cotas e tentar desmontar o sistema que ele entende e prega ser racista e mais excludente.
Segundo matéria da VEJA Frei David teria 68,2% de africanidade e 30,8% de européia e 1% de ameríndia.

O que o senador Demostenés Torres não aceita e nem quer ver é que há resultado no sistema de cotas. Que há avanços nessa política e que como muitas outras carece de aprimoramento e ser acertada.
A defesa das cotas se dar por entendimento que de fato é acertada essa polítca, não é excludente e racista como pregam alguns, como os membros do Partido Democratas e tem muito a ser aprimorada e servir de referência como política reparatória.
Atleta Daiane dos Santos, segundo VEJA 39,4% africanidade, 40,8% européia e 19,5 ameríndia.
Alagoano, cantor e compositor Djavan apareceu com 65% africano e 4,9 ameríndia e 30,1% européia.

Quem é negro? Quem não é? Quem saberá?

A respeito da discussão sobre cotas raciais a Revista (não) VEJA de 6 de junho de 2007 trouxe uma polêmica matéria onde na capa, dois gêmos identicos teriam sido classificados na UnB como sendo um negro e outro branco. Para complemento dessa matéria a revista trouxe um panoramo com personalidades negras onde media-se o quanto de africanidade cada um desses expoentes da raça negra (conhecidos na música, futebol e TV) possuiam.
Milton Nascimento, cantor e compositor apareceu como um dos mais negros com 99,3% de africanidade e 0,3% amedindia e 0,4% européia. A matéria trouxe ainda Neguinho da Beija Flor (puxador de samba e compositor) com 31,5% de africanidade; o jogador Obina com 61,4%; o cantor e compositor Seu Jorge com 85,1% e a cantora Sandra de Sá com 96,8% de africanidade. A matéria tinha como intuito debater e questionar quem são os negros e as negras realmente em nosso país. Uma tentativa nada disfarçada da (não) VEJA de trazer de volta aquele velho e falso debate de que somos um país maravilhosamente miscegenado. Que há mistura de negros e índios, brancos e negros e índios e brancos, isso sabemos, mas os fatores não foram de harmoniosa vontade de mistura de raças como sempre se tentou pregar em nossa recente história.
Neguinho da Beija Flor - 31,5% de ascendência africana, 1,4% de ameríndia e 67,1 de européia.
Jogador Obina - 61,4% de africana, 25,4% de ameríndia e 13,2 de européia.
Seu Jorge, cantor e compositor - 85,1% de africana, 2% de ameríndia e 12,9% de européia.
Sandra de Sá - cantora, 96,8% de africana, 1,1% de ameríndia e 2,1% de européia.

E você quanto tem? Comprou o seu "colorimetro"?

COTAS RACIAS OU SOCIAIS?

Cada vez mais a discussão de COTAS tem tomado conta dos noticiários e rodas de discussões. Para além do debate antigo das cotas raciais, eis que tomou proporção o de cotas sociais. Que nada mais é que uma tentativa de mascarar um problema antigo.
A grande discussão e questão é a reparação racial, uma vez que o povo negro aqui chegou escravo, permaneceu escravo e depois da promulgação da "liberdade" em 13 de maio, foi obrigado a permanecer nas fazendas (senzalas) e/ou partirem para o que hoje conhecemos como as favelas do Brasil. Antes senzala, depois favela. A essa população foi renegado durante muito, muito tempo o direito à educação básica e com a expansão das Universidades ainda assim o acesso de negros e negras foi e ainda é pequeno.
As cotas vem com o intuito de reparar esse erro histórico, não se trata como alguns dizem de presentear aos negros e as negras e ser ainda mais racistas para com os/as memos/as.
A foto pergunta, "cotas raciais por que sim?", a resposta é essa que todos/as conhecem mas fingem não saberem e deturpam. As cotas raciais são para efeito de reparação e garantir o acesso de negros/as às Intituições de Ensino Superior do país, porém, para além de garantirmos o ingresso é preciso com política de assistência estudantil eficiente que se garanta a permanência dos cotistas, pois bom desempenho, é provado e sabido que os/as mesmos/as possuem. Agora é necessário que os/as mesmos/as permanecem para concluirem os seus estudos.